Canção do Fogo
Tínhamos nascido verdes
neste jardim imperfeito,
de matagais salpicados de verrugas como um sapo,
agrides com rancor o guarda florestal
consertando a armadilha
que cativa cervo, galo, truta, até o mais leal
enganado para vacilar em sangue derramado.
Agora a nossa única tarefa é talhar
alguma forma de anjo digno para usar
na intricada pilha de lixo onde tudo é feito
de modo tão errado
que nenhuma inquérito directo
poderia libertar
a sagaz captura sem de novo lançar
cada acto de valor para
a informe lama coberta pelo azedo céu.
Doces sais desvirtuam o caule
de ervas daninhas que enfrentamos até
ao fim da linha do caminho;
queimados pelo sol vermelho
extraímos sílice da terra, torturado
numa teia farpada de veias;
Bravo amor, não sonhes em
estancar tão estrita chama, mas vem,
repousa em minha ferida; queima, queima.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa