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A Senhora Lázaro

Voltei a fazer isso. Um ano em cada dez Sei que consigo -  Uma espécie de milagre ambulante, a minha pele Brilhante como um abajur Nazi, O meu pé direito  Um pisa-papéis, O meu rosto é um rosto inexpressivo, óptimo Linho Judeu.  Retira o guardanapo Ó meu inimigo. Amedronto?  O nariz, as covas dos olhos, a dentição completa? O hálito azedo Desaparecerá dentro de um dia.  Logo, logo a carne A cova da sepultura será comida Em casa por minha conta  E eu uma mulher sorridente. Tenho trinta anos apenas. E como o gato, nove vidas para morrer.  Este é o Número Três. Que lixo Para aniquilar em cada década.   Que milhão de filamentos. A multidão descascando amendoins  Acotovela-se para ver  Despem as minhas mãos e os pés - O grande striptease. Senhores, senhoras  Essas são as minhas mãos Os meus joelhos. Posso ser pele e osso,  Mas, sou a mesma, exactamente igual. A primeira vez que aconteceu tinha dez anos. Foi um acidente.  A segunda quis que fosse Para durar e não regressar. Com firmeza encer

Coruja

Os relógios marcavam doze horas. A rua principal mostrava o oposto Do seu subúrbio de floresta: o nimbo - Iluminado, mas despovoado, mantinha as suas janelas De doces de boda, Anéis de diamante, rosas em vasos, peles de raposa, Ruddy nos manequins de cera Num quadro envidraçado de riqueza. De porões profundos  O que moveu a pálida coruja raptonal Ali, a gritar acima do nível Dos postes de luz e fios, de parede a parede, A asas abertas no controle De correntes marítimas, a barriga De penas densas, terrivelmente macias para Atacar? Dentes de ratos destroem a cidade Abalada pelo grito da coruja. The Collected Poems | Sylvia Plath © 1981 The Estate of Sylvia Plath  Editorial material © 1981 Ted Hughes Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

Carta em Novembro

Amor, o mundo De repente ganha, ganha cor. A luz da rua Divide-se pela cauda do rato, Vagens de laburno às nove da manhã. É o Árctico,  Este pequeno círculo Negro, com relvas citadinas de seda - cabelo de bébés. Há um verde no ar, Macio, delicioso. Isso suaviza-me com amor.  Estou corada e cálida. Penso que posso ser imensa, Estou tão estupidamente feliz, As minhas botas Wellingtons Pisam e repisam por completo o belo vermelho.  Esta é a minha propriedade. Duas vezes por dia Caminho, farejando O azevinho bárbaro com as suas viridianas Conchas de vieira, ferro puro,  E a parede de velhos cadáveres. Adoro-os. Amo-os como história. As maçãs são douradas, Imaginem -  As minhas setenta árvores Segurando as suas bolas douradas Numa densa sopa cinzenta de morte, O seu milhão  De folhas d'Ouro metalizado e sem fôlego.  Ó amor, ó celibatário. Ninguém além de mim Caminha molhado pela cintura. O insubstituível Ouro sangra e escurece, a boca das Termópilas. The Collected Poems | Sylvia Plath ©

O Carcereiro

O meu suor nocturno engordura o seu prato de pequeno almoço da manhã. O mesmo cartaz de névoa azul é colocado em posição Com as mesmas árvores e lápides. É tudo o que ele pode inventar, A tagarelice de chaves?  Fui drogada e violada. Sete horas perdidas do meu perfeito juízo Num saco preto Onde relaxo, feto ou gato, Alavanca de seus sonhos molhados.  Algo se foi. O meu comprimido de dormir, o meu zepelim vermelho e azul Derruba-me de uma altitude terrível. A carapaça esmagada, Estendo-me até aos bicos dos pássaros.   Ó pequenas brocas de pedra - De que buracos esse dia de papel está cheio! Ele tem-me queimado com cigarros, Finge que sou uma negra com patas rosadas. Mas sou eu mesma. Isso não é suficiente.  A febre goteja e endurece em meu cabelo. As minhas costelas aparecem. O que comi? Mentiras e sorrisos. Certamente o céu não é dessa cor, Certamente a relva está a ondular.  O dia inteiro, colei a minha igreja de palitos de fósforo queimados, Sonho por completo com outra pessoa. E ele