Últimas Palavras
Não quero um simples caixão, quero um
sarcófago
Com listras de tigre e um rosto sobre ele
Redondo como a lua, para olhar para cima.
Quero vê-los quando vierem
Escolhendo as raizes entre minerais mudos.
Já os vejo - as pálidas faces distantes como estrelas.
Agora não são nada, nem bebés são.
Imagino-os sem pais ou mães, como os primeiros deuses.
Questionarão se eu era importante.
Devo adoçar e conservar como fruta os dias!
O meu espelho já obscurece -
Algumas respirações mais e não reflectirá absolutamente nada.
Flores e rostos embranquecem como um lençol.
Não confio no espírito. Escapa como vapor
Em sonhos, pelo buraco da boca ou do olho. Não consigo detê-lo.
Um dia não regressará. As coisas não são assim.
Permanecem, os seus pequenos brilhos particulares
Aquecidos por muito uso. Quase ronronam.
Quando as solas dos meus pés esfriam,
O olho azul da minha turquesa vem-me reconfortar.
Deixem-me levar as minhas panelas de cobre, deixem as minhas panelas vermelhas
Florescerem em torno de mim como flores nocturnas, com um bom odor.
Vão enrolar-me em faixas, vão guardar o meu coração
Sob os meus pés num pacote asseado.
A mim mesma dificilmente me conhecerei. Vai estar escuro,
E o brilho dessas pequenas coisas é mais doce do que o rosto de Istar.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa