Espelho
Sou de prata e exacto. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo imediatamente absorvo
Preciso como é, isento de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro -
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
Quase sempre, medito na parede oposta.
É rosa, com manchas. Olhei- a por tanto tempo.
Acho que faz parte do meu coração. Mas cintila.
Rostos e escuridão repetidamente nos separam.
Agora sou um lago. Uma mulher inclina-se para mim,
Procurando em minhas mãos o que realmente é.
Depois volta-se para esses impostores, as velas ou a lua.
Vejo o seu dorso e fielmente o reflicto.
Recompensa-me com lágrimas e um aceno de mãos.
Sou importante para ela. Vem e vai.
Cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim afogou uma jovem, e em mim uma
velha
Cresce para si em cada dia, como um peixe terrível.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa