O Colosso
Nunca irei conseguir juntar todas as suas peças,
Remendado, colado e devidamente articulado.
Zurro de burro, grunhido de porco e gargalhadas obscenas
Procedem de seus grandes lábios.
É pior do que um curral.
Talvez te consideres um oráculo,
Porta-voz dos mortos, ou de algum ou outro deus.
Trabalhei até agora durante trinta anos
Para drenar o lodo da tua garganta.
Não fiquei mais sábia.
Escalando pequenas escadas com potes de cola e baldes de lisol
Rastejo como uma formiga de luto
Sobre os campos cheios de ervas daninhas da tua testa
Para consertar as imensas placas do crânio e limpar
Os túmulos brancos e calvos dos teus olhos.
Um céu azul além de Oréstia
Arcos acima de nós. Ó pai, sozinho
És forte e histórico como o Fórum Romano.
Abro o meu almoço numa colina de ciprestes negros.
Os teus ossos estriados e cabelo acantino desalinhados
Em sua antiga anarquia até à linha do horizonte.
Seria preciso mais do que um relâmpago
Para criar tal ruína.
Em noites, agacho-me na cornucópia
Da tua orelha esquerda, fora do vento,
Contando as estrelas vermelhas e as cores da ameixa.
O sol nasce sob a coluna da tua língua.
As minhas horas casaram-se com a sombra.
Já não ouço o raspar de uma quilha
Nas pedras em branco do patamar.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa
Remendado, colado e devidamente articulado.
Zurro de burro, grunhido de porco e gargalhadas obscenas
Procedem de seus grandes lábios.
É pior do que um curral.
Talvez te consideres um oráculo,
Porta-voz dos mortos, ou de algum ou outro deus.
Trabalhei até agora durante trinta anos
Para drenar o lodo da tua garganta.
Não fiquei mais sábia.
Escalando pequenas escadas com potes de cola e baldes de lisol
Rastejo como uma formiga de luto
Sobre os campos cheios de ervas daninhas da tua testa
Para consertar as imensas placas do crânio e limpar
Os túmulos brancos e calvos dos teus olhos.
Um céu azul além de Oréstia
Arcos acima de nós. Ó pai, sozinho
És forte e histórico como o Fórum Romano.
Abro o meu almoço numa colina de ciprestes negros.
Os teus ossos estriados e cabelo acantino desalinhados
Em sua antiga anarquia até à linha do horizonte.
Seria preciso mais do que um relâmpago
Para criar tal ruína.
Em noites, agacho-me na cornucópia
Da tua orelha esquerda, fora do vento,
Contando as estrelas vermelhas e as cores da ameixa.
O sol nasce sob a coluna da tua língua.
As minhas horas casaram-se com a sombra.
Já não ouço o raspar de uma quilha
Nas pedras em branco do patamar.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa