O Sonho
"Ontem à noite", disse ele, "dormi bem
à excepção de dois sonhos estranhos
que vieram antes da mudança do tempo
quando me levantei e abri todas
as persianas para que soprasse o vento cálido
com plumagem húmida através dos quartos.
"No primeiro sonho conduzia pela
escuridão um carro negro funerário
repleto de homens até colidir com
uma luz, e de imediato uma mulher
furiosa seguiu-nos e correu para
deter o carro num curso precipitado.
"Chorando, chegou até à ilha
onde parei, e com uma maldição
exigiu que pagasse uma multa
por ser um tão bruto agressor
e danificar toda a invisível
planta de iluminação do universo.
"Atrás de mim ouvi então uma voz
aconselhando a que lhe agarrasse a mão
e a beijasse na boca porque me
tinha amado e um valente abraço
evitaria todas as sanções.
"Sei, sei", disse ao meu amigo.
"Mas ainda esperei ser multado
e receber a intimação clara da mulher
(enquanto lavava a estrada com lágrimas),
depois conduzi-te em cima do vento...
Não te conto o pesadelo
que me aconteceu na China."
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa