Ouija
É um deus frio, um deus de sombras,
Sobe para o vidro de suas braças negras.
Á janela, esses nascituros, esses desmanchados
Reúnem-se com a palidez frágil de mariposas,
Uma invejosa fosforescência em suas asas.
Vermelhões, bronzes, cores do sol
No carvão, o fogo não os consolará inteiramente.
Imaginem a sua fome profunda, tão profunda
quanto a escuridão
Pelo calor do sangue que tingiriam ou reclamariam.
A boca de vidro suga o calor do sangue do meu dedo indicador.
O velho deus dribla, trocando, as suas palavras.
O velho deus também escreve poesia áurea
Em tons maculados, vagando entre as ruínas,
Cronista sério de cada decadência infame.
A idade, e as idades da prosa, aplanaram
O seu turbilhão de falar, mitigaram o seu temperamento excessivo
Quando as palavras, como gafanhotos, tamborilaram no ar que escurecia
E deixou as espigas batidas, limpamente mordidas.
Os céus já usavam uma azul, divina altura,
Ravel acima de nós, nubladamente desce,
Encorpado com motes, para um
casamento com a lama.
Louva a rainha podre com cabelo de açafrão
Que tem afrodisíacos mais salgados
Do que lágrimas de virgens. Essa obscena rainha da morte,
Os vermes mensageiros em seus ossos.
Louva ainda o sumo dela, quente nectarina.
Vejo-o, a pele córnea e dura, interpretar
Que rígidas pedras ergue a lâmina do arado
Como ponderáveis provas de amor.
Ele, piedoso, a tremer, soletra
Não há Gabriel sucinto de cartas aqui
Mas floridamente, as suas nostalgias amorosas.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa