Diálogo en route
"Se pelo menos algo acontecesse!"
suspirou Eva, a exímia garota do elevador,
para Adão, o toureiro arrogante
ao passarem pelo quadragésimo nono andar
numa caixa de relógio vertical em velocidade,
rápida como um falível falcão.
"Desejo que os tios e tias milionários
tivessem um guarda-chuva como liberais cogumelos venenosos
num aguaceiro de Chanel, vestidos Dior,
filé mignon e vinhos fortes,
um bando de tolos filantrópicos
para satisfazer desejos extravagantes."
Erecto em seu espalhafatoso capote
o falso Adão, o toureiro, chorou:
"Ó, possam morrer de cólera todos os Agentes Federais,
e todos os meus dólares quiméricos
possam gerar inúmeras contas, de boa-fé:
uma picante piada hiperbólica!"
Eva disse: "Desejo que nematóides venenosos
fossem enfeitiçados por assíduos amantes,
cada um transformado em galante inveterado
com o excelente talento técnico de Valentino
para recreação debaixo dos cobertores:
episódios elegantes e eróticos."
Acrescentou Adão, aquele vaidoso simiesco,
com seu moderno polegar opositor:
"Ó para os ubíquos gratuitos afrodisíacos,
para as abóboras o ronronar em Cadillacs
e para a voluptuosa Vénus que há-de vir
o valsar para mim fora da sua concha de berbigão."
Rompendo a guarnição da gravidade,
Eva, a exímia garota do elevador,
e Adão, o toureiro arrogante
partiram disparados ao passar o nonagésimo quarto andar
para encurralar o enigma do espaço
em sua celestial origem enigmática.
Ambos assistiram ao barómetro afundar
enquanto o mundo girava em sua órbita
e milhares nasceram e cairam mortos,
quando, do vazio acima da cabeça
(muito rápido para o par observar),
veio um imenso pestanejar galáctico.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa
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