Insone
O céu nocturno é somente uma espécie de papel carbono,
Azul escuro, com períodos muito marcados de estrelas
Deixando entrar a luz, olho mágico após olho mágico -
Uma luz como um osso branco, como a morte, por trás de todas as coisas.
Sob os olhos das estrelas e do ricto da lua
Ele sofre com o travesseiro do deserto, a insónia
Estendendo em todo o lugar a areia fina e ardente.
Repetidamente, o antigo filme granular
Expõe constrangimentos - os dias açaimados
Da infância e adolescência, pegajosos de sonhos,
Os rostos dos pais em hastes altas, alternadamente severos, lacrimejantes,
Um jardim de rosas com bugigangas que o fez chorar.
A sua testa amordaçada como um saco de pedras.
As memórias atropelam-se por um lugar na sala de visitas
como estrelas de cinema obsoletas.
Ele é imune a pílulas: vermelho, roxo, azul -
Como iluminaram o tédio da noite prolongada!
Esses planetas açucarados cuja influência conquistou para ele
Uma vida baptizada por um tempo sem vida,
E o doce despertar drogado de um bébé esquecido.
Agora as pílulas estão gastas e tolas, como os deuses clássicos.
As suas cores adormecidas de papoula não lhe fazem bem.
A sua cabeça é um pequeno interior de espelhos de cinza.
Cada gesto foge imediatamente por um beco
De perspectivas decrescentes e a sua importância
Escorre como água pelo buraco na outra extremidade.
Ele vive sem privacidade numa sala sem tecto,
As fendas carecas de seus olhos totalmente endureceram
No incessante relâmpago das situações de calor.
Ao longo da noite, no quintal de granito, gatos invisíveis
Têm miado como mulheres ou instrumentos danificados.
Ele já pode sentir a luz do dia, a sua doença branca,
Aproximando-se do chapéu de triviais repetições.
A cidade é um mapa de gente que chilreia alegre agora,
E em todo o lugar a gente, os olhos prateados e vazios,
Vai para o trabalho em filas,
como se tivesse sofrido uma lavagem cerebral.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa