O Detective

O que estava ela a fazer quando explodiu
Sobre as sete colinas, o sulco vermelho, a montanha azul?
Estava a arrumar as chávenas? É importante.
Estava à janela, escutando?
Naquele vale, os guinchos do trem ecoam como almas em anzóis. 

Esse é o vale da morte, embora as vacas prosperem.
Em seu jardim, as mentiras sacudiam as suas sedas húmidas
E os olhos do assassino movendo-se como uma lesma e de lado,
Incapaz de enfrentar os dedos, egoístas.
Os dedos estavam a socar uma mulher na parede, 

Um corpo num cano e a fumo a crescer.
Este é o cheiro de anos queimando, aqui na cozinha,
Esses são os enganos, pregados como fotos de família,
E este é um homem, olha para o sorriso dele,
A arma mortal? Ninguém está morto. 

Não há corpo algum na casa.
Há o cheiro de graxa, há tapetes felpudos.
Há a luz do sol, tocando as suas lâminas,
Bandido entediado numa sala vermelha
Onde o rádio fala consigo mesmo como um parente idoso. 

Veio como uma flecha, como uma faca?
Qual dos venenos utilizou?
Que fritadores de nervos, que produzem
convulsões? Foi electrocutado?
Este é um caso sem corpo.
O corpo não entra de forma alguma. 

É um caso de vaporização.
A boca primeiro, a sua ausência relatada
No segundo ano. Tinha sido insaciável
E na punição foi pendurada como fruta castanha 
Para enrugar e secar. 

A seguir os seios.
Esses eram mais difíceis, duas pedras brancas.
O leite ficou amarelo, depois azul e doce como água.
Não havia ausência de lábios, eram duas crianças,
Mas os ossos apareceram e a lua sorriu. 

Em seguida, a madeira seca, os portões,
Os sulcos castanhos maternais, toda a herdade.
Caminhamos no ar, Watson.
Há apenas a lua, embalsamada em fósforo.
Há apenas um corvo numa árvore. A tirar notas.




The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath 
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

Mais poesia...

Carta de Amor

A Senhora Lázaro

Solstício Móbil de Verão

Os Doentes Sociáveis