O Outro

Chegas tarde, limpando os lábios.
O que deixei intocável na soleira da porta - 

Os ténis brancos Nike,
Fluindo entre as minhas paredes? 

Sorridente, relâmpago azul
Assumes, como um gancho de açougue, o fardo da carne. 

A polícia ama-te, confessas tudo.
Cabelo brilhante, sapato preto, plástico velho, 

A minha vida é assim tão intrigante?
É para isso que alargas os teus anéis? 

É para isso que partem as partículas de ar?
Mas não são partículas de ar, são corpúsculos. 

Abre a tua carteira. O que é esse mau cheiro?
É o teu tricô, ocupado 

A tricotar-se a si mesmo,
São os teus doces pegajosos. 

Tenho a tua cabeça na minha parede.
Cordões de umbigo, vermelho-azulado e translúcido, 

Grito de minha barriga como flechas, e nelas  monto.
O brilho da lua, ó doente, 

Os cavalos roubados, as fornicações
Cercam um útero de mármore. 

Onde vais
Que sugas fôlego como distância em milhas? 

Os adultérios sulfurosos sofrem num sonho.
Vidro frio, como em ti colocas 

Entre mim mesma e eu.
1 arranhão como um gato. 

O sangue que corre é fruto escuro -
Um efeito, um cosmético. 

Sorris.
Não, não é fatal.




The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath 
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

Mais poesia...

Carta de Amor

Senhora Lázaro

Solstício Móbil de Verão

Os Doentes Sociáveis