Os Manequins de Munique
A perfeição é terrível, não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, aperta o útero
Onde os teixos sopram como hidras,
A árvore da vida somada à árvore da vida
Soltando as suas luas, mês após mês, sem fim algum.
A inundação do sangue é a inundação do amor,
O sacrifício absoluto.
Significa: nenhum ídolo existe além de mim,
Eu e tu.
Assim, em sua beleza de enxofre, em seus
sorrisos
Esses manequins repousam esta noite
Em Munique, morgue entre Paris e Roma,
Nus e carecas em seus casacos de pele,
Gelados de laranja em palitos de prata,
Intoleráveis, sem mente.
Da neve caem os seus pedaços de trevas,
Ninguém está por perto. Nos hotéis
As mãos estão a abrir as portas e colocam
No chão os sapatos para um lustro de carbono
Para onde irão amanhã os seus dedos do pé.
Ó, a domesticidade dessas janelas,
A renda de bébé, a confeitaria de folhas verdes,
Os pesados alemães adormecendo em seu Orgulho insondável.
E os telefones pretos nos ganchos
Brilhantes
Brilhantes e digerindo
A ausência de voz. A neve não tem voz.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa