Picadas
Com as mãos nuas, entrego os favos de mel.
O homem de branco sorri, de mãos nuas,
As nossas luvas de gaze limpa e doce,
As gargantas de nossos pulsos valem lírios.
Ele e eu
Temos mil células limpas entre nós,
Oito favos de chávenas amarelas,
E a própria colmeia uma chávena de chá,
Branca com flores rosa,
Com amor excessivo, esmaltei-a
Pensando em "doçura, doçura".
Células de criação cinzentas como os fósseis de conchas
Apavoram-me, parecem tão velhos.
O que estou a comprar, mogno comido por vermes?
Existe nele alguma rainha?
Se houver, é velha,
As suas asas rasgados xailes, o seu corpo comprido
Coçado na sua pelúcia
Pobre, despojado, deselegante e até vergonhoso.
Encosto-me a uma coluna
De mulheres aladas, desassombradas,
Bebedores de mel.
Não sou enfadonha
Embora por anos tenha comido poeira
E pratos secos com o meu denso cabelo.
E vejo a minha estranheza evaporar-se,
Orvalho azul de pele perigosa.
Será que me odiarão,
Essas mulheres que apenas correm,
Cujas novidades são trevo e ceraja abertos?
Está quase a acabar.
Estou em posição de controle.
Aqui está a minha máquina de mel,
Vai funcionar sem pensar,
Abrindo na primavera, como uma industriosa
virgem
Para limpar os cumes cremosos
Como a lua, com seus pós de marfim, sinala
o mar.
Uma terceira pessoa está presente.
Nada tem a ver com o apicultor ou comigo.
Agora se foi
Em oito grandes saltos, um grande bode expiatório.
Aqui está o chinelo dele, aqui está outro,
E aqui o quadrado de linho branco
Que usava em vez de chapéu.
Era doce,
O suor de seus esforços uma chuva
Levando o mundo à frutificação.
As abelhas descobriram-no,
Moldando os seus lábios como mentiras,
Rebuscando as suas feições.
Achavam que a morte valia a pena, mas
Tenho um eu para recuperar, uma rainha.
Está morta, está dormindo?
Onde esteve,
Com o seu corpo vermelho-leão, as suas asas de vidro?
Vai agora a voar
Mais terrível que nunca, vermelha
Cicatriz no céu, cometa escarlate
Sobre a máquina que a matou
O mausoléu, a casa de cera.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa