Totem

O motor está a destruir o trilho, o trilho é prata,
Estende-se até a distância. Ainda assim, será devorado. 

O seu andamento é inútil.
Ao anoitecer, há a beleza dos campos alagados, 

O amanhecer adorna os fazendeiros como porcos,
Balançando ligeiros em seus trajes
grosseiros, 

Torres brancas de Smithfield à frente,
Ancas gordas e sangue em suas mentes. 

Não há misericórdia no brilho dos cutelos,
A guilhotina do açougueiro que sussurra: "Como isto é, como é?" 

Na marmita a lebre é abortada,
Afastaram a sua cabeça de bébé, 
embalsamada em temperos, 

Esfolada de pele e humanidade.
Vamos comê-la como a placenta de Platão, 

Vamos comê-la como Cristo.
Estas são as pessoas que foram importantes - 

Os seus olhos redondos, os seus dentes, os suas esgares
Numa vara que chocalha e estala, uma cobra falsificada. 

Será que o capuz da cobra me apavora?
A solidão do seu olho, o olho das montanhas 

Através de que o céu eternamente se enreda?
O mundo é quente e pessoal 

Diz amanhecer, com o seu rubor de sangue.
Não há terminal, apenas malas 

Através de que o mesmo eu se desdobra como um traje
Careca e brilhante, com bolsos de desejos 

Noções e bilhetes, curtos-circuitos e espelhos duplicados.
Estou louca, grita a aranha, agitando os seus múltiplos braços. 

E na verdade é terrível,
Multiplicados nos olhos das moscas. 

Zumbem como crianças azuis
Em teias do infinito, 

Cercadas no final pela única
Morte entre múltiplas varas.




The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath 
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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