Uma tempestade insolente atinge o crânio
Uma tempestade insolente atinge o crânio,
ataca a cidadela adormecida,
derrubando o presidente pelos joelhos
- na impotência, para implorar a paz,
embora arbitrariamente isso o divirta,
o vento acorda a inteira metrópole.
Ciclones cépticos testam o osso
de esqueleto estrito e sagrado;
vendavais polémicos provam em detalhe
como a carne se une rápida a uma articulação gelada,
e uma enxaqueca ciclópica estremece
os templos dos ortodoxos.
Abracadabra da chuva
afoga as orações de Noé com desdém,
leva o padre e a prostituta até à rua,
privados de Moisés e de costumes;
nenhum projecto antigo constrói uma arca
para navegar nesta escuridão final.
Inundações do rio transcendem o nível
demarcando o bem e o mal,
e argumentos casuais correm à solta
inundando a quietude do Éden:
todos os absolutos que os anjos dão
tropeçam no relativo.
Um relâmpago conjura o globo de Deus fora da "sua
órbita; nem lei nem profetas
podem rectificar o leviano intento
para atraiçoar o firmamento.
Agora a terra rejeita a comunicação
com a posição autocrática do céu,
e viola o costume celestial
repudiando o sistema solar.
Uma ironia cintilante inspira
Independentes e rebeldes fogos
até que a voz do Locutor se perda
em heresias de holocausto.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa