Acrobata
Cada noite, a hábil jovem senhora
Mente entre lençóis
Triturada finamente como flocos de neve
Até que o sonho leve o seu corpo
Da cama aos severos testes
De acrobacias na corda bamba.
Todas as noites se equilibra
Qual esperto gato em fios perigosos
Num salão gigante,
Ao passo de suas delicadas danças
Ao estalo de chicote e de rugido
Exprimindo a vontade do maestro.
Pintada de dourado, vindo apurada
Através daquele ar abafado,
Dá um passo, pára, pendura-se
No ponto morto do centro do seu acto
Como se grandes pesos caíssem sobre ela
E começa a balançar-se.
Assim instruída, a rapariga
Afasta a investida e a ameaça
De cada pêndulo;
Pelo hábil mergulhar e redopiar
Atrai aplausos; arreios brilhantes
Mordidas afiadas em cada bravo membro.
Então, feita a difícil tarefa, faz uma vénia
E serenamente cai a pique
Para atravessar o piso de vidro
E volta para casa em segurança; mas, virando-se com os olhos treinados,
O domador de tigres e sorridente palhaço
Acocorado, vai jogando bolas pretas sobre ela.
Então, camiões altos dão entrada
Com um trovão como leões; todos as metas
E movimentos pesados
Para prender esta ágil e ultrajante rainha
E despedaçar em átomos
A suas tão incertas nove vidas.
Observando o estratagema
Do peso preto, bola preta, camião preto,
Com uma última evasão habilidosa, salta
Através do arco daquele sonho perigoso
Para se sentar totalmente acordada
Quando o alarme alto pára.
Agora como punição pela sua destreza,
Durante o dia deve andar com medo,
Manoplas de aço de trânsito, abatida pelo terror
Para que, por despeito, o todo
Elaborado andaime do céu acima
Dê o golpe final de raquete na sua sorte.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa