Medusa
Fora do poço de terra de tampas bucais de pedra,
Olhos revirados por varas brancas,
Orelhas cobrindo as incoerências do mar,
Alojas a tua cabeça enervante - uma bola de Deus
Cristalinos de misericórdias,
Os teus fantoches
Atirando as células selvagens contra a sombra da quilha do meu barco,
Empurrado à força por corações,
Estigmas vermelhos bem centrados
Navegando no mar alto até ao ponto de partida mais perto,
Arrastando os seus cabelos de Jesus.
Escapei, pergunto-me?
As minhas mentes enrolam-se em ti
Velho umbigo com cristas, cabo Atlântico,
Mantendo-se, ao que parece, no estado de milagrosa conservação.
Em qualquer caso, estás sempre aí,
Respiração trémula nos final da linha,
Curva de água subindo
À minha vara de água, fascinante e grata,
Tocando e sugando.
Não te chamei.
Não te telefonei.
No entanto, no entanto
Voaste sobre o mar até mim,
Gordo e vermelho, uma placenta
Paralisando o apetite dos amantes.
Luz de cobra
Roubando o fôlego dos sinos de sangue
Da fúcsia. Não conseguia respirar,
Morta e sem dinheiro,
Super-exposta, como um raio X.
Quem pensas que és?
Uma hóstia de comunhão? Blubbery Mary?
Não morderei o teu corpo,
Garrafa em que habito,
Vaticano sinistro.
Estou farta até à morte de
sal quente.
Verdes como eunucos, os teus desejos
Assobiam os meus pecados.
Fora, fora, ávido tentáculo!
Nada há entre nós.
The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa