O Carcereiro

O meu suor nocturno engordura o seu prato de pequeno almoço da manhã.
O mesmo cartaz de névoa azul é colocado em posição
Com as mesmas árvores e lápides.
É tudo o que ele pode inventar,
A tagarelice de chaves? 

Fui drogada e violada.
Sete horas perdidas do meu perfeito juízo
Num saco preto
Onde relaxo, feto ou gato,
Alavanca de seus sonhos molhados. 

Algo se foi.
O meu comprimido de dormir, o meu zepelim vermelho e azul
Derruba-me de uma altitude terrível.
A carapaça esmagada,
Estendo-me até aos bicos dos pássaros.
 
Ó pequenas brocas de pedra -
De que buracos esse dia de papel está cheio!
Ele tem-me queimado com cigarros,
Finge que sou uma negra com patas rosadas.
Mas sou eu mesma. Isso não é suficiente. 

A febre goteja e endurece em meu cabelo.
As minhas costelas aparecem. O que comi?
Mentiras e sorrisos.
Certamente o céu não é dessa cor,
Certamente a relva está a ondular. 

O dia inteiro, colei a minha igreja de palitos de fósforo queimados,
Sonho por completo com outra pessoa.
E ele, por essa subversão,
Agride-me, ele
Com a sua couraça de falsidade, 

As suas máscaras frias de amnésia.
Como cheguei aqui?
Criminoso indeciso,
Morro de variadas formas,
Enforcada, faminta, queimada, enganchada.
 
Imagino-o
Impotente como um trovão distante,
Na sua sombra comi a minha ração de fantasma.
Desejo que morra ou que se vá embora.
Mas, ao que parece, isso é impossível. 

Porque não tem preço. O que faria o escuro
Sem febres para comer?
O que faria a luz
Sem olhos para golpear, o que pode 
Fazer, fazer, fazer ele sem mim?




The Collected Poems | Sylvia Plath
© 1981 The Estate of Sylvia Plath 
Editorial material © 1981 Ted Hughes
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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